terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma mentira por amor


Tudo aconteceu por causa de uma mentira. Faltei a um compromisso que marquei com minha namorada para ir farrear. No dia seguinte ela me ligou perguntando por que eu não tinha ido. Achando melhor não dizer a verdade, inventei que torci o pé jogando bola. Logo em seguida tive que sair. Preocupada com minha situação ela foi me visitar e não me encontrou, o pior foi que uma amiga dela contou que me viu na rua com o pé perfeitamente normal.

Então fui obrigada a fazê-la acreditar que estava falando a verdade. Enfaixei o pé e com a ajuda de um amigo fui até sua casa. Chegando lá com “muita dificuldade”, mancando, a encontrei me esperando no portão, já de cara amarrada. Tentei fazê-la entender o que tinha acontecido. Ela não acreditou e já tinha opinião formada, estava disposta a terminar. Então caminhei como se estivesse indo embora, conformada. Logo a frente sentei na grama e pedi ao meu amigo para chamá-la e dizer que eu estava chorando. Então, ela veio e me perguntou “Cadê as lágrimas?”. Sentou do meu lado para conversar. Pedi desculpas por ter faltado ao compromisso e pedi para ela confiar em mim e que realmente eu tinha torcido o pé e que a amiga dela havia me confundido com outra pessoa. Fiz um drama, quase chorei quando ela encostou no meu pé supostamente machucado. Ela ficou muito preocupada e eu me aproveitei da sua preocupação. Tentei levantar e caí de propósito para ela sentir pena. Só assim ela me perdoou. Então nos beijamos e meu amigo e eu fomos embora e eu ainda mancando, por medo de uma alguém me ver e contar a ela que menti.

A partir daí ficamos bem, enquanto durou. Aprendi que para o amor dar realmente certo, não vale mentiras.

J.

sábado, 4 de abril de 2009



Essa é minha mãe, ela tem 32 anos e seu nome é Eliane, foi sua história que escolhi contar. Ela nasceu em Guapi, me teve com 16 anos de idade e nós dois passamos por muitas coisas juntos. Meu pai chegava quase sempre bêbado e me batia muito quando ela não estava em casa. Uma vez eu quase morri e ele falou para ela que eu tinha caído da cama. Por tudo isso, um dia quando ele estava dormindo, ela me pegou e viemos morar em Saracuruna, onde muita coisa aconteceu: ela botou ele na justiça, começou a trabalhar como cobradora de ônibus, trabalhava o dia todo para comprar alguma coisa para nos dar o que comer, além de ter que pagar o aluguel.

Foi quando ela conheceu o Denis, meu padrasto, eles ficaram um bom tempo juntos, quando ela engravidou de Wesley, meu irmão, que hoje tem 11 anos. Foi quando a gente foi morar com ele na casa dos pais dele, mas lá ficava um clima estranho, os pais dele não gostavam dela. Ás vezes, quando ela ficava sozinha chorava perguntando a deus “por que?”.

Ela continuava trabalhando muito e quase não tinha tempo pra ficar com a gente, até que aconteceu uma tragédia. Esperando o ônibus de noite, em um ponto em que a marquise de concreto estava quase caindo, o ônibus veio, e sem querer, encostou na marquise que caiu em cima dela. Foi muito triste, ela ficou entre a vida e a morte, mas deus não deixou morrer. Ela ficou internada por alguns meses, teve a bacia quebrada e ficou muito tempo no soro e seu braço inchou.

Mas depois de um bom tempo teve alta, ficou andando de muleta porque não conseguia andar direito. O tempo passou, minha mãe e meu padrasto conseguiram fazer uma casa e fomos morar nela. Minha mãe voltou a andar e tudo deu certo.

Essa foi um pouco da minha história.
Luis Henrique

Saracurunando por aí!

O pedido escrito no quadro-negro foi o seguinte:


“Escrevam em uma folha separada uma história que vocês julguem importante sobre suas vidas, e/ou de pessoas importantes para vocês, e que merecem ser contadas e registradas. Ilustre sua história com uma foto da pessoa ou dos acontecimentos contados.”


Dessa proposta um universo de almas e histórias toma as mais variadas formas e cores e servem como pontapé inicial. Começa aqui um pequeno projeto, sobre uma aparente pequena comunidade, composta por aparentes pequenos sonhos, histórias, tristezas, alegrias, sorrisos, de longe sempre pequenos. Observados sem compromisso, nada além de mais uma pequena placa que anuncia mais um bairro que logo fica para trás no caminho de quem passa.


Porém, um olhar mais cuidadoso revela equivocadas tais pequenezas e ao mesmo tempo nos permite perceber uma realidade em que transbordam sentimentos e vidas que não devem ser diminuídas. Nela existem pessoas que valem a pena, que aos poucos descobrem, aprendem e nos ensinam lições em cada encontro. Lições de perseverança, carinho, coragem e vontade. E o mais importante, descobrem nelas próprias uma grandeza que por vezes nem elas sabiam ter.


Esse “blog” surge desses encontros – em sala de aula e fora dela –, da percepção de que a história não é apenas aquilo que os livros nos contam, ela é construída em seus fatos e sentidos por cada um, a cada dia e experiência vivida.


Portanto, as histórias aqui reunidas têm como objetivo apresentar as diversas significações e sentidos que cada indivíduo tem a oferecer sobre suas vidas, assim como nos ajudar a conhecer as pessoas com que convivemos, nos permitindo valorizá-los como indivíduos merecedores de nosso respeito, carinho e incentivo. E o mais importante, ajudá-las a notar que elas merecem tudo isso.

Mostrando assim que Saracuruna não apenas tem boas histórias a serem contadas e lidas, como também uma comunidade que tem muito mais valor do ela própria as vezes é capaz de perceber.

Boas leituras,
Professor Manuel Augusto Salgado Pimenta